Macapá, 14 de julho de 2016.
Apesar de toda a delicadeza dos seus 86 anos, o aperto de mão é forte. O olhar é penetrante e a voz é mansa. Os cabelos já estão brancos, mas a memória dos primeiros anos de Medicina ainda permanece bem viva. A médica Clara Augusta Martins Ventura se formou em 1957 pela Universidade Federal do Pará. Mas foi no ex-território do Amapá, em abril de 1962, que passou a exercer a profissão. Até então, era professora de Biologia em um colégio em Belém do Pará.
A mudança para o extremo norte do Brasil veio a convite de sua irmã, a médica Emília Martins Ventura Picanço. Uma das primeiras ginecologistas a atuar no Amapá. “Na época apenas um médico fazia pediatria por aqui. E era necessário também levar atendimento aos pacientes no interior do estado. Apesar da população não ser tão grande, como hoje, a demanda era crescente. E por isso aceitei o desafio. E foram muitos os desafios”, ressalta a pediatra Clara Augusta.
As viagens para o interior do Amapá eram longas e cansativas. As estradas não apresentavam boas condições. Também era necessário viajar em pequenas embarcações para chegar a lugares de difícil acesso. Além dos desafios para levar atendimento médico à população ribeirinha, a falta de medicamentos já era um problema desde a década de sessenta, que também foi vencida pela médica. “Por muitas vezes tiramos dinheiro do próprio bolso. Mas, tínhamos um amigo farmacêutico, o senhor Rubim Aronovitch, que nos ajudou por muitos anos doando medicamentos”, recorda.
A médica possui muitas lembranças dos anos que exerceu a medicina no Amapá, mas ela faz questão de ressaltar que o mais importante é o conselho que tem para as futuras gerações de médicos. “A Medicina vem evoluindo, atualmente há muitos recursos e possibilidades de exames que ajudam no fechamento do diagnóstico, mas o profissional tem que saber fazer algo simples: conversar e escutar seu paciente,” aconselha a experiente médica, inscrita com o CRM- AP de número 22.
A Dra. Clara Augusta Martins Ventura trabalhou no Hospital Geral, onde atualmente funciona o Hospital de Clínicas Alberto Lima; na Pediatria e para a Legião Brasileira de Assistência. Depois que se aposentou passou a morar em Belém do Pará, mas sempre visita Macapá, onde um de seus dois filhos mora.